quarta-feira, 3 de abril de 2013

entrevisto QUEM !

Vera Fischer: "Não quero embagulhar"

Aos 61 anos, atriz garante querer viver sem olhar para trás. Ela, que está lançando seu segundo livro de ficção, 'Lucíola', diz que sabe a idade que tem, nega que sua internação em 2011 tenha sido em função da dependência de drogas e reconhece não viver um grande papel com a personagem Irina, na novela 'Salve Jorge': “Não acrescenta nada”

Vera Fischer (Foto: Marcelo Faustini)
De quantos momentos da vida de Vera Fischer você se lembra? Eis alguns: a mulher fatal e símbolo sexual que povoou o sonho de várias gerações, encarnando papéis na TV e no cinema nas décadas de 70 e 80. A garota de Blumenau (SC) que, em 1969, aos 17 anos, foi coroada Miss Brasil. A atriz que teve vários romances, mas diz que só amou os pais de seus filhos: o ator Felipe Camargo, com quem teve Gabriel, 19 anos, e o também ator Perry Salles (morto em 2009), pai de Rafaela, 33.  A elogiada intérprete da minissérie Desejo (1991) e protagonista das novelas Brilhante (1981), Mandala (1987) e Laços de Família (2000). E a figura polêmica, que já declarou, em entrevista a QUEM em 2009, ter ficado dois anos sem sexo.
Vera não quer esquecer sua biografia, mas agora, aos 61 anos, não valoriza o passado. “O presente é muito mais importante”, diz ela, que não quis entrar em detalhes sobre quando ficou dois meses internada no Núcleo Integrado de Psiquiatria (NIP) no Rio de Janeiro. Em sua cobertura, no Leblon, Vera fala sobre a Irina de Salve Jorge, diz não sentir falta de namorado e revela que não quer “embagulhar”. Seu segundo livro de ficção, Lucíola, tinha lançamento previsto para terça-feira (26). Vera pretende fazer mais livros e mais personagens. Quer viver o presente e o futuro.
QUEM: Você não tinha um personagem fixo em novelas desde Caminho das Índias, em 2009. Como foi essa volta?
VERA FISCHER: Foi uma volta legal, mas não é nada especial. Já fiz tantos papéis maravilhosos e há outros que espero fazer ainda... Sou contratada da TV Globo. Faço a personagem bem direitinho, às vezes ela é simpática, outras é meio dúbia. Mas não acrescenta nada na minha carreira.

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QUEM: Como assim?
VF: Não é uma grande personagem, mas acho que, de tudo o que a gente faz, tira alguma coisa.

QUEM: Comenta-se muito nas redes sociais que você só grava cenas sentada porque estaria se sentindo gorda.
VF: Não tem nada a ver. Até comentei isso com o diretor e ele falou que é porque a Irina faz contabilidade, então fica atrás do balcão. Quem manda é a autora e o diretor. Reclamo uma vez, não discuto.

QUEM: Você ainda malha?
VF: Às vezes fico dois meses sem malhar, aí malho um mês, mas também acho que tenho que emagrecer um pouco porque engordei. Sou de família alemã, gosto muito de tortas, bolos, biscoitos. Sei que sou mais magra quando não como doce, mas me dei uma permissão. E pensei: se eu malhar, vou endurecer a gordura, não é verdade? Às vezes vou caminhar na orla, mas estou gravando muito, inclusive aos sábados, e aí só sobram os domingos. E domingo tem que ter a família.

QUEM: Como está a relação com seus filhos?
VF: Eu adoro jantar com a Rafaela, ir ao cinema. A gente foi ver Os Miseráveis e chorou tanto! Estamos amigas, porque antes ela era mais reservada. Ela se enrosca em mim, me abraça, me beija, o que antes não fazia. Já o meu filho é carinhosinho.

Vera Fischer (Foto: Marcelo Faustini)
QUEM: Em 2011, você ficou internada dois meses em uma clínica de reabilitação para dependentes químicos. O que houve?
VF: Eu quis ir lá, era um momento em que eu precisava estar longe de todo mundo. Saí ótima, acho que foi uma coisa boa para mim e para os meus filhos. A gente não tem que falar sobre isso porque é uma coisa muito particular minha e da minha família.

QUEM: Teve a ver com drogas?
VF: Não, não teve.

QUEM: Por que foi para clínica?
VF: É uma coisa da cabeça. Às vezes a gente precisa, tem muita pressão na vida de uma mulher sozinha com dois filhos, às vezes fica difícil (Vera pede educadamente para mudar de assunto).

QUEM: Você disse uma vez que, antigamente, vivia rodeada de gente que te sugava e que se aproveitava de você. Quando foi isso?
VF: Disso não me lembro, faz muito tempo. Eu não lembro mais de muita coisa do passado. E também eu faço questão de não lembrar, porque o presente é muito mais importante.

QUEM: O estilista Karl Lagerfeld disse em entrevista que sexo é coisa para os jovens. Concorda?
VF: Não concordo. Quando você bate o olho em alguém e alguém bate o olho em você, e você sabe que é uma coisa sexual, vai resolver essa questão. Se essa coisa se desenvolve, vira um namoro, um casamento, é uma história. Se é só uma relação sexual, é só uma relação sexual. E acho que idade não tem nada a ver.

QUEM: Quando foi a última vez que você beijou na boca?
VF: Ah, meu Deus, não posso falar (risos). Foi há duas semanas, mas não posso falar em quem foi. Mas não foi um beijo apaixonado. Da minha parte, foi um beijo de amizade.

Vera Fischer (Foto: Marcelo Faustini)
QUEM: Sente falta de um namorado?
VF: Não. Eu gosto muito da minha casa, da minha cama, do meu jeito e da minha privacidade, está ótimo assim. Quando rola uma coisa como aquela que falei, olho no olho, sexo, ninguém fica sabendo. E é para não saber mesmo.

QUEM: Você acha que vai ser sempre associada a uma imagem sexual?
VF: Acho que não, isso teve seu tempo. Claro que a pessoa tem que se manter bacana. Eu, aos 61 anos, tenho noção da minha idade, mas também não quero embagulhar. As pessoas, antigamente, ficavam em cima de mim como abelhas no mel...

QUEM: Os homens?
VF: Sim, mas hoje em dia não tem mais isso. Tem uma pessoa ou outra que se interessa por mim e eu acho bacana.

QUEM: Você está lançando Lucíola, seu segundo romance de ficção de uma série de dez. No que pensa quando escreve?
VF: Coisas minhas, que vivencio no dia a dia.

QUEM: Por que usar nomes de mulheres em todos os títulos?
VF: São elas que comandam a história, por isso quis dar o nome delas. Depois eu fui ver que todos os quadros que pintei antes de começar a escrever, uns 200, têm cara de mulher. Os olhos, a boca, são figuras femininas. Então eu devo querer buscar um feminino, dentro de mim ou do mundo, que não existe, alguma coisa que falta.

QUEM: O que seria?
VF: Não sei, porque não é estranho de repente eu perceber que pintei 200 quadros com cara de mulher e escrevi livros com nomes de mulher? Isso não é coincidência, é um sinal de alguma coisa que eu não sei o que é. É algo a se discutir, porque as mulheres realmente não conquistaram o mesmo lugar que os homens no mundo. Já está muito melhor, mas não adianta, é muito machismo. Talvez isso me incomode.

QUEM: Você já disse que suas personagens nunca são só boas ou más. Qual seria o seu lado mau?
VF: Não, não tem isso, falo da luta pela sobrevivência. Se é para te matar, eu te mato para viver, é nesse sentido que falo. Não tenho esse escrúpulo religioso de dizer “ah, vou deixar ela me matar porque sou boazinha”. Tenho uma criação muito alemã, meu pai não me explicava as coisas, eu que me virasse sozinha. Sempre ajo como se estivesse numa selva, como se fosse um bicho.

QUEM: O nome Vera significa sincera, verdadeira e franca. E você é assim. Pagou um preço muito caro por isso?
VF: Paguei, mas é assim que eu quero que seja, porque, se você criar sua vida em cima de mentira, vai ser uma atrás da outra. Se você começa com a verdade, paga um preço caro, mas vai ser verdade para sempre e ninguém pode inventar nada a seu respeito.

QUEM: E qual foi o preço?
VF: O preço é esse: você cai e levanta. A fênix vira cinzas e aí ressurge. É um belo exemplo, eu não devia ser tão metida a besta e dar esse exemplo, mas a verdade é que só existe ele (risos).

Vera Fischer (Foto: Marcelo Faustini)

Nicette Bruno se emociona ao falar de recuperação de Paulo Goulart: "Está melhorando a cada dia" - Ediçã0 650 (22/02/2013)

Aos 80 anos, ela conta que se arruma para ele e fala emocionada sobre a luta do marido contra um câncer. Espírita, a atriz tem na fé uma aliada e diz que desespero não leva a nada - Por Raquel Pinheiro

Nicette Bruno (Foto: Marcelo Côrrea)Nicette Bruno (Foto: Marcelo Côrrea)

“Oi, meu amor. Vem cá, Paulão”, diz Nicette Bruno, sorriso aberto no rosto, olhos brilhando ao ver o marido, Paulo Goulart, entrar na sala de casa, no Recreio dos Bandeirantes, Zona Oeste do Rio de Janeiro, no meio desta entrevista. Em recuperação de um câncer do mediastino, diagnosticado em janeiro do ano passado, ele elogia a mulher. “Está linda”, fala, expressão igualmente terna. Nicette, que interpreta a Leonor da novela Salve Jorge, segue Paulo com o olhar até ele sair do cômodo e lembra, emocionada, a luta contra a doença. Ela evita a palavra câncer. “Ele está melhorando a cada dia, ainda está em tratamento, mas graças a Deus não está mais fazendo quimioterapia. Foi muito difícil, mas nunca esmorecemos e não nos entregamos”, afirma a atriz. Casados desde 1954, Nicette e Paulo completaram 80 anos no mês passado e têm três filhos, Bárbara Bruno, de 56 anos, Beth Goulart, 52, e Paulo Goulart, 47 anos. Todos atores, como os pais.
A família sempre foi prioridade para Nicette, que estreou nos palcos menina e parava por um ano a cada vez que era mãe. “Acho fundamental para dar estabilidade emocional à criança”, diz ela, que fala com orgulho de sua trajetória ao lado do marido, para quem se arruma todas as manhãs. “Gosto de ficar cheirosa para ele.”
QUEM: Como foi quando Paulo ficou doente?
NICETTE BRUNO: Descobrimos a doença em um exame de rotina. O médico explicou sobre umas coisas atípicas, disse que tinha algo no mediastino e nos encaminhou para um especialista. É uma paulada, mas a gente tem que ser forte. Não pode se deixar envolver por isso e se desesperar. Não pode, não deve, porque não leva a nada. Dor. É dor (emociona-se). Você aprende na vida por dois caminhos: pelo amor e pela dor. Paulo está melhorando a cada dia, ainda está em tratamento, mas graças a Deus não está mais fazendo quimioterapia. Foi muito difícil, mas não esmorecemos, não nos entregamos.


QUEM: A senhora não se desesperou. Mas teve medo?
NB: Se eu tenho fé, se acredito na vida e tenho certeza de que a vida não começa no berço e não termina na tumba, isso me impulsiona. A doutrina espírita nós dá força. Tenho certeza de que não estou desamparada. Tenho que aprender com aquilo para poder superar, senão eu sucumbo junto. Eu me mantive forte. Vou dominando e superando e passando por cima, porque a vida é isso, ninguém vem para cá viver em um mar de rosas.


QUEM: A fé ajudou a senhora nos momentos difíceis?
NB: Sempre tive fé e a fé me ajuda muito porque não me revolto com os dissabores da vida. Isso não significa que eu não sofra. Nós enfrentamos com sofrimento, mas com a certeza de que Paulo teria aquilo que ele merecia, que nós todos merecíamos. E ele está aí, ótimo, e vai continuar.


QUEM: Como é sua relação com a doutrina espírita?
NB: Nasci em uma casa espírita e sempre me apeguei a Deus como força maior. Meus filhos também foram criados na doutrina. Eles viam todo o nosso trabalho social e aprenderam a dividir, repartiam suas roupas e brinquedos.


QUEM: A senhora já disse que quando viu Paulo pela primeira vez achou ele bonitinho. Quando achou ele bonitão?
NB: (Risos) Na primeira vez que vi Paulo, nem prestei atenção, ele fazia teste para participar do espetáculo e eu era a titular da companhia. Depois me falaram: “Olha, Paulo está gostando de você”. E eu: “É mesmo, que maravilha”. Aí é que fui olhar para ele com outros olhos, e o achei bonitão. Foi uma paixão, mas aos poucos. Numa festa, ele me pediu para recitar um poema, recitei. Ele estava em uma salinha e disse: “Eu tinha pedido para você recitar para mim, não para essa gente toda”. Fomos dançar e, quando terminou a música, já estávamos de mãos dadas e aí começou o namoro.


QUEM: É verdade que a senhora acorda primeiro, só para ele não vê-la desarrumada?
NB: Nada excessivo. Eu sempre acordo e me preparo para tomar café com ele de forma agradável, não como uma coisa descabelada. Eles (os homens) não precisam ver a gente de bobes na cabeça, não tem casamento que dure. Paulo já me viu de bobes no trabalho. Em casa, nunca. Gosto de ficar cheirosa para ele.


QUEM: A senhora é vaidosa? Está com um salto bem alto...
NB: É uma obrigação você estar arrumada para as pessoas que te cercam, então, estou sempre arrumada para meu marido e sempre de salto alto, salto baixo nunca. Até meu chinelo é de salto alto, daqueles com pomponzinho na frente. Hoje, fui fazer ginástica, coloquei tênis e falei: “Meu Deus, que horror!”. Sempre fui muito baixinha, tinha 1,52 metro, hoje devo ter diminuído. Vou ao médico fazer exame e digo: “Não meça minha altura”. Não me meço e não me peso – não vamos amargar vida. Mas nunca me preocupei em esconder a idade.


Nicette Bruno (Foto: Marcelo Côrrea)

QUEM: Numa época em que muitas mulheres se dedicavam apenas à família, a senhora trabalhou e criou os filhos. Arrepende-se?
NB: Tive esse exemplo em casa, minha avó foi estudar medicina e já tinha três filhos. A cada filho que nascia eu me dedicava inteiramente no primeiro ano de vida, o que acho fundamental para dar estabilidade emocional à criança. Nunca deixei filho em mão de babá, mas tive muita ajuda de minha mãe.


QUEM: Como era quando a senhora e Paulo saíam em turnês?
NB: As crianças acompanhavam nossa vida profissional. Antes de viajar, Paulo fazia uma gravação para ouvirmos as vozes dele quando estivéssemos longe. Eles foram se acostumando, nunca tiveram carência de espécie alguma. Nunca precisei mandar filho estudar.


QUEM: Paulo sempre foi muito bonito, alguma mulher mais atirada olhava para ele?
NB: Várias! Mas temos confiança um no outro, porque não eram só as mulheres que davam em cima dele, os homens davam em cima de mim também.


QUEM: E quem é mais ciumento, a senhora ou Paulo?
NB: Ele é mais ciumento. Mas a gente se respeitava, nunca tivemos cenas de ciúme. Tivemos um pacto de relação: se houver alguma coisa, seja o primeiro a dizer, não deixe saber por terceiros.


QUEM: E a senhora nunca deu uma olhadinha para o lado?
NB: Nunca, nunca, nunca. Eu sempre admirei muito Paulo e Paulo sempre me admirou muito. A gente nem percebe o tempo que passou. A relação vai mudando, somos melhores do que éramos.


QUEM: A pergunta é clichê, mas vale: qual é o segredo para um casamento duradouro?
NB: O sentimento é a base de tudo, mas o respeito à individualidade é fundamental. Somos pessoas diferentes com valores comuns. Queríamos construir uma família e, naquela época, era preciso casar. Quando namorávamos, nós ficávamos juntos o tempo todo. Chegava na hora melhor, ele ia para a casa dele e eu, para a minha (risos).


QUEM: Esperava completar 60 anos de casada?
NB: A gente tinha projeto de vida, de constituir uma família, mas não sabia como ia ser. Eu fiquei casada e não engravidei. Só depois de dois anos é que apareceu a Bárbara. A vida vai ensinando, as dificuldades, que foram muitas, vão ensinando também.


QUEM: Gostaria de ter tido mais filhos?
NB: Fiquei grávida cinco vezes, mas perdi dois filhos. Antes de Paulinho, tivemos um menino que sobreviveu horas. Depois, quando a Bárbara engravidou, acho que descuidei com todo aquele rebuliço de ser avó e fiquei grávida de novo. Tinha 42 anos e ia ser mãe e avó. Perdi esse bebê com seis meses de gravidez, era outro menininho.

Se eu tenho fé, se acredito na vida e tenho certeza de que a vida não começa no berço e não termina na tumba, isso me impulsiona (...) Não estou desamparada.

Bibi Ferreira: "Só tenho 25 anos. Ou muito menos" - Edição 653 (15/03/2013)

Diva do teatro brasileiro, atriz, de 90 anos, é viciada em novelas e afirma que só ganhou dinheiro com a televisão. Como uma iniciante, ela fala sobre o nervosismo com a estreia de um espetáculo nos Estados Unidos, em abril, conta que já foi casada cinco vezes e garante que ainda tem “pernão”

Bibi Ferreira (Foto: Marcelo Correa)
A memória impecável, a voz firme e o olhar direto, sempre por trás de óculos escuros, não condizem com a imagem de uma senhora de 90 anos. Mas Bibi Ferreira não tem nada de ordinário: grande diva do teatro brasileiro, filha do ator e diretor Procópio Ferreira e da bailarina Aída Izquierdo, ela se casou cinco vezes, ganhou prêmios como o Molière e o Mambembe e, em abril, faz sua estreia nos Estados Unidos com um espetáculo musical em Nova York, coroando uma carreira de 72 anos.
A consagração no teatro, onde até hoje canta, atua e dirige, não significou retorno financeiro, o que Bibi garante só ter tido com a televisão, onde dirigiu e participou de diversos programas. Para estrelar novelas, recusou todos os convites, apesar de acompanhar religiosamente as tramas das 9 da TV Globo. “Adorava Avenida Brasil”, fala a atriz, hoje de olho na saga de Morena (Nanda Costa) em Salve Jorge. “Tomo interesse como se fosse minha família, quero saber o que está acontecendo”, diz. Mãe da também atriz e diretora Tina Ferreira, de 58 anos, Bibi mora em um amplo apartamento no Flamengo, Zona Sul do Rio de Janeiro, com um dos netos e três gatos. Notívaga, acorda depois do meio-dia, adora beber refrigerante, lê com avidez e procura poupar a voz: “É meu ganha-pão”.
QUEM: A senhora vai estrear em Nova York. Está ansiosa?
BIBI FERREIRA: Estou muito nervosa, mas muito nervosa eu fico sempre, ainda hoje. Quanto mais você trabalha, mais responsabilidade tem de se apresentar bem. Faço tudo de cor, tenho idade e não uso ponto eletrônico.

QUEM: Como a senhora se prepara para os palcos?
BF: Sou muito devota e peço a Nosso Senhor Jesus Cristo que me ajude nessa hora, porque os nervos atrapalham a respiração. Cuido da minha voz, que é meu ganha-pão. Uma hora antes de entrar no palco, como uma banana pura e aqueço a garganta com um gole de café com açúcar. Eu trato de não falar muito. Não tomo gelado, tenho a sorte de não gostar de sorvete, não bebo e nunca fumei. Outra coisa que eu detesto é falar ao telefone.

Bibi Ferreira (Foto: Marcelo Correa)
QUEM: A senhora não tem um celular?
BF: Não tenho, nunca tive e nem quero ter. Todo mundo à minha volta tem, eu não preciso. Eu levo uma vida muito simples. Acordo, tomo café com leite, como pão, manteiga. Tenho boa saúde, não faço dieta e não gosto de chocolate. Em compensação, adoro Coca-Cola, é meu vício. Mas nada diet.

QUEM: E quais os cuidados com o corpo?
BF: Não faço exercícios, tenho uma coluna encrencada, então, fico quieta. Quando acordo, trato de me esticar com calma, feito um gato. Também começo a falar devagar. Não tenho problema algum, às vezes, talvez, subir uma escada. A esteira está em frente à televisão. Vejo TV, mas não faço esteira.

QUEM: Sempre quis ser atriz?
BF: Nunca quis nada, porque eu nunca tive opinião. Naquela época, as mocinhas não mandavam em nada. Meus pais se separaram e meu pai era quem vinha de fora, sempre muito agradável. Já minha mãe era quem exigia em casa. Mamãe me deu uma disciplina que eu não tinha de nascença. Se não fosse ela, eu estaria desse tamanho, gooorda (abre os braços), com quatro ou cinco filhos. Eu era muito preguiçosa, ela me colocou nos eixos. Estreei no teatro com 17 anos com meu pai, fiz muita coisa com ele. Depois fui para a Inglaterra, estudei dois anos na Royal Academy, em Londres, em 1946.

QUEM: Como era sua vida na Londres do pós-guerra?
BF: Era a Londres do racionamento, que foi tão grande quanto durante a guerra. O açúcar era racionado, nós tínhamos tíquetes. Estudei desde criança em escola de língua inglesa, cheguei lá com o idioma afiado. Fiz muitos amigos. Era um negócio estranhíssimo conhecer alguém de teatro do Brasil, naquela época. Eu era um caso de estudo (risos).

QUEM: A senhora fez um filme por lá. Não pensou em fazer carreira internacional?
BF: Eu ia fazer um filme que acabou a Audrey Hepburn fazendo, mas meu pai ficou doente, com tifo, ele estava à morte aqui no Brasil. Ele esteve muito mal, e quem tinha que tomar conta da família e prover era eu.

QUEM: Sua carreira atravessou vários períodos políticos no Brasil. A senhora chegou a ter problemas com a censura?
BF: Na época de Getúlio Vargas, não. Getúlio admirava meu pai e sabia que eu falava cinco idiomas. Ele me convidou para ser intérprete do governo, mas ficou por isso mesmo. Depois é que entraram os grandes grupos novos de teatro com os grandes protestos nas peças. Aí, veio a censura pesada. Na época de Gota ­d’Água (1975), meu Deus do céu...

Bibi Ferreira (Foto: Marcelo Correa)
QUEM: O que aconteceu?
BF: Paulo Pontes, meu marido, autor da peça junto com Chico Buarque, foi várias vezes a Brasília. Terror psicológico era um horror, você começava a ver a obra toda picotada e sem nexo. Hoje é considerada a maior peça do teatro nacional.

QUEM: Conseguiu sucesso financeiro com o teatro?
BF: Não deu para comprar uma casa. Foi a televisão que me deu dinheiro, porque é uma coisa mensal, tem ordenado, você é contratada. Consegui ter minha casa própria, que é esta aqui. Nunca esperei morar em um lugar da categoria deste apartamento, nunca. Não achava que teria cacife. Eu não sei o que é dinheiro no banco. Vivo daquilo que eu ganho. Não posso parar de trabalhar. Teatro nunca me deu nada, não, e olha que eu faço sucesso no teatro! Mas tenho que ficar no teatro, que é a única coisa que sei fazer.

QUEM: Nunca teve vontade de fazer novela?
BF: Fui convidada, mas nunca quis fazer. Sou preguiçosa e teria que acordar muito cedo para ir lá não sei onde para gravar. Mas gosto muito de novela, estou ligadona em Salve Jorge. Morena está grávida e tomo interesse como se fosse minha família, quero saber o que está acontecendo. Adorava Avenida Brasil e Carminha. Acho Adriana Esteves uma tremenda atriz, assim como Nanda Costa.

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QUEM: A senhora já disse que a velhice é a prova de que o inferno existe. Continua pensando assim?
BF: Envelhecer é para os outros mais do que para a gente. As pessoas é que comentam que você mudou. Quem não te vê há um ano se choca e faz perguntas diferentes. As perguntas dos outros é que vão te envelhecendo e você vai notando que não é mais aquela pessoa que você era. Isso é moralmente e socialmente. Fisicamente é que eu não tenho problemas, porque eu só tenho 25 anos. Ou muito menos.

QUEM: A senhora se casou cinco vezes...
BF: Cinco vezes, mas pense que eu tenho quase 100 anos! Dá 20 anos para cada um. Morreram todos.

QUEM: Não sente falta de uma companhia?
BF: A companhia de um marido é muito séria, importante. Sinto falta mesmo de um companheiro comigo dentro de casa. Mas agora eles só querem as mocinhas. Está difícil.

QUEM: Pretende encontrar alguém?
BF: Nisso não acredito mais, é uma coisa abolida do meu pensamento. Você vai vendo no comportamento do homem que muda, coisas que ouvia e não ouve mais. Eu me lembro do olhar dos homens. Hoje, eu seria um sucesso com as pernas de fora, porque elas são a coisa mais bonita que tenho, não têm uma manchinha, vou te mostrar (Bibi levanta o vestido e mostra as pernas). Olha o pernão que eu tenho, modéstia à parte (risos).

QUEM: É difícil perceber que os homens não olham mais?
BF: Você vai se acostumando ao que não mais merece e vai compreendendo que realmente não merece mais, embora eu tenha dentes todos verdadeiros, muito bons, pele muito boa. Mas eu tenho a fama de ter 90 anos, o que é um mal. Os 90 anos chegam antes de mim. As pessoas falam “o meu bisavô era amigo do seu pai”. Então, acabou.

Bibi Ferreira (Foto: Marcelo Correa)

Totia Meireles: "Quando fiz 50, achei muito ruim" - Edição 645 (18/01/2013)

Aos 54 anos, atriz vibra com o sucesso de Wanda, a vilã que interpreta em "Salve Jorge". Casada há 21 anos com o médico Jaime Rabacov, ela dá graças a Deus por não ter tido filhos, afirma que não é tão vaidosa quanto gostaria e diz que se preocupa, sim, com o tempo. “Não estou nem um pouquinho a fim de fazer 60. Tomara que passe tudo bem devagar”

Totia Meireles (Foto: Felipe Oneill)
Maria Elvira, nome de batismo de Totia Meireles, está radiante. Aos 54 anos, após 27 anos de uma carreira vitoriosa, mas cheia de papéis secundários, e praticamente todos de moças do bem, o sucesso veio com Wanda, a perversa traficante de humanos da novela "Salve Jorge", da TV Globo. “Quero ser odiada mesmo. Sempre fiz a mãe boazinha, a amiga que todo mundo queria ter”, diz Totia.
Formada em educação física pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e professora de balé, até os 27 anos ela nunca havia pensado em ser atriz. Até que surgiu um teste para o musical "A Chorus Line" e, depois, um convite para um programa do Chico Anysio. Ali, Totia mudou de profissão, deixando para trás o sonho de montar uma academia de dança.
Totia Meireles (Foto: Felipe Oneill)
Casada há 21 anos com o médico Jaime Rabacov, 57 anos, Totia e o marido mantêm, há 19 anos, um relacionamento a distância durante a semana. Ela fica no apartamento do casal, na Zona Sul do Rio, e ele, no sítio em Miguel Pereira, no interior do estado. Aos sábados e domingos, os dois se encontram em um dos dois endereços e, segundo a atriz, dá tudo certo. Com sete irmãos, 19 sobrinhos e dois netos postiços, Santiago, 4 anos, e Pilar, 4 meses, filhos de Olívia, 35, de um relacionamento anterior de Jaime, ela, que não teve filhos biológicos, sente-se realizada como tia e também como mãe e avó emprestada. “Acho muito difícil para a mulher tomar a decisão de não ter filhos.”
QUEM: Wanda é sua primeira personagem de grande repercussão. Como é experimentar tanto sucesso aos 54 anos?
TOTIA MEIRELES: É muito bom ver seu trabalho reconhecido. E é legal que a idade dá a maturidade de saber que isso é passageiro. Estou aproveitando enquanto a Wanda existe. Daqui a pouco, ela vai deixar de existir e vai vir outro personagem. Não tenho deslumbramento nenhum.


QUEM: Nunca existiu frustração por ainda não ter vivido uma protagonista?
TM: Não tive ambição dentro da minha carreira na televisão, tive no teatro. Nunca tive uma frustração. Sempre aceitei muito bem. Acho que sou muito comodista nessa parte. O que a gente sempre quer é fazer bons personagens.


QUEM: Por que só decidiu ser atriz aos 27 anos?
TM: Meu pai, José Meireles (falecido há 4 meses), era militar. Nasci no Rio, a gente se mudou para Pindamonhangaba (interior de São Paulo), e fomos para Cuiabá quando eu tinha 12 anos. Fiquei até os 15, 16, e voltei para o Rio para estudar. Fiz faculdade de educação física na UFRJ, para ter uma academia de balé. Ser atriz nunca passou pela minha cabeça. Comecei a dar aula de balé e fiz teste para o musical A Chorus Line, em 1983. Passei e adorei. A Globo me chamou para fazer o programa do Chico Anysio. E vi que eu era atriz, com 27 anos. Comecei velha porque já era professora, fazia faculdade para montar uma academia e comecei totalmente por acaso.


QUEM: Como está sendo viver a Wanda?
TM: Minha família diz que sou muito melhor má do que boazinha. Estou experimentando um lado que nunca exercitei na TV, estou adorando. Quero ser odiada mesmo. Sempre fiz a mãe boazinha, a amiga que todo mundo queria ter. Já tinha feito mazinhas no teatro, mas não nesse grau. Acho que nem existe coisa pior do que a Wanda. Na cena dos bebês (em que a personagem negocia friamente recém-nascidos com uma suposta ladra de crianças que depois serão traficadas para o exterior), cheguei em casa com um nó na garganta, uma angústia. Fiquei muito mal depois e dei uma choradinha.

Totia Meireles (Foto: Felipe Oneill)

QUEM: Você está casada há 21 anos com Jaime, mas moram em casas separadas. Como funciona?
TM: A gente casou e o sonho dele sempre foi morar em um sítio, então, comprou um terreno em Miguel Pereira e fomos construindo aos poucos. Tivemos um assalto lá em casa, acordamos com revólver na cabeça... Ele ficou meio traumatizado e disse que ia se mudar para Miguel Pereira. Eu disse que não podia, fica a 1 hora e 40 minutos do Rio, eu estava trabalhando. Mas era o sonho da vida dele e eu dei a maior força. De jeito nenhum pensamos em nos separar. Ele mora lá e nos fins de semana eu vou ou ele vem. Já tem uns 19 anos desse jeito, e tudo dá certo. Não sou rural, de ficar escutando passarinho. Mas minha casa é lá também. Tomo conta das duas. Homem não liga muito para coisas de casa.


QUEM: Esse seria o segredo para uma relação duradoura?
TM: Depois de 20 e poucos anos, tem o desgaste, é difícil. Isso a gente não tem. Acaba sendo um namoro, mas mesmo sendo só nos fins de semana acaba virando uma rotina ver o seu marido só naqueles dias. Quando vamos viajar, pensamos “será que vamos aguentar ficar um mês juntos?” (risos).


QUEM: E o ciúme?
TM: Acho o ciúme dele normal, nada que me impeça de fazer nada. Acho que sou mais ciumenta. O Jaime é uma pessoa adorável, realmente tirei a sorte grande. Não há cobranças entre a gente, acho que isso é maturidade dos dois. A gente nunca brigou, um respeita o outro.


QUEM: Com duas casas, como as contas são divididas?
TM: Não tem o meu e o seu. É tudo misturado. Ele paga uma coisa, eu outra. O que ele ganha com o que eu ganho é tudo o que a gente tem para viver e pronto. Sempre deu certo.

Totia Meireles (Foto: Felipe Oneill)

QUEM: Com tanto tempo de casamento, ainda existe romantismo?
TM: Quando uma cena sai legal, ele manda flores. Comemoramos tudo. Sou louca por datas. Gosto de comemorar aniversário, namoro, casamento. Não consigo me ver longe dele. Velhinha ficará mais difícil de ficar indo e voltando, mas a gente ainda tem essa efervescência, tem muito por fazer. Ainda quero trabalhar até muito velha, não sei qual será a nossa relação, mas estaremos juntos.

QUEM: Por que não teve filhos?
TM: Acho muito difícil para a mulher tomar a decisão de não ter filhos. Tentei engravidar aos 36 anos, fiz um tratamento que estimula a ovulação. Sempre quis ter filhos, mas, quando veio a menstruação, percebi que era um sinal, que eu não queria ser mãe. Dou graças a Deus por não ter tido. Não queria cuidar, acordar de madrugada, ter essa responsabilidade. Filho é para quando você é nova. Filho você não desliga e pendura no armário.

Veja mais (Foto: Revista QUEM)
QUEM: Você está muito bem para a sua idade. Já fez plástica?
TM: Fiz um minilifting no pescoço, tinha um papinho que odiava. Também fiz botox e preenchimento. Queria colocar silicone, mas depois desisti. Não sou muito vaidosa, queria ser muito mais. Eu tenho a pele de quem tem 54 anos, sim. Comecei a me cuidar muito tarde, era aquela que ia à praia e descascava inteira. Com quase 40, comecei a me cuidar mesmo. Gosto de malhar de manhã. Faço corrida, escada e transport. Tenho personal trainer três vezes por semana. Continuo fazendo balé, mas há dois meses não vou.


QUEM: Você já declarou que estava louca para fazer 50 anos e depois disse que não está gostando. Como é isso?
TM: Quando fiz 40, tive crise dos 40. Não queria. Mas, os 50, estava louca para fazer. Acho bonito uma mulher fazer 50, traz uma maturidade, você não tem que ser tão esticadinha, pode ter rugas. Mas, quando fiz 50, achei muito ruim, não é esse glamour (risos). Agora acostumei. Melhor fazer 50 do que não fazer, né? Mas não estou nem um pouquinho a fim de fazer 60. Tomara que passe tudo bem devagar.

Totia Meireles (Foto: Felipe Oneill)

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