terça-feira, 16 de outubro de 2012

entrevistas

Ingrid Guimarães: "Perdi muito tempo preocupada com beleza" - Edição 629 (28/09/2012) revista QUEM

Em cartaz com a peça "Razões para ser bonita", atriz critica a obsessão pela aparência e conta que, aos 40, se sente muito melhor do que na adolescência - Por Bruno Segadilha

Ingrid Guimarães (Foto: Nino Andres/Ed. Globo)
Ser bela: maldição ou dom divino? Ingrid Guimarães tenta responder a essa pergunta em "Razões para Ser Bonita", peça escrita pelo americano Neil Labute em cartaz no Teatro Vivo, em São Paulo. Em entrevista a QUEM, a atriz conta que já sofreu na adolescência, quando começou na carreira, por não estar nos padrões de mulher desejável. “Achava que tinha que ser de um determinado jeito para entrar na TV. Hoje, sei que o que importa é o talento”, diz a atriz, que escolheu usar para as fotos uma camisa estampada com o rosto de Marilyn Monroe por pura ironia. “Falamos demais em estética”, critica a atriz, famosa por interpretar tipos sensuais e cômicos na TV, como a modelo Leandra Borges, personagem que já apareceu no humorístico Escolinha do Professor Raimundo, em 2001, e que ganhou quadro no Fantástico, em 2008.
Depois da vaidosa Helô, da série "Macho Man", exibida no ano passado, a atriz faz segredo sobre sua volta à TV, que provavelmente será na novela que Walcyr Carrasco escreve para a faixa das 9 e será exibida depois de "Salve Jorge". Casada com o designer e publicitário Renê Machado e mãe da pequena Clara, de 3 anos, Ingrid diz que se sente melhor e mais bela hoje, aos 40, do que quando era adolescente. “Sou como vinho”, brinca a atriz, que, depois de 11 anos em cartaz com a peça Cócegas, afirma estar nervosa como uma iniciante no palco. “Parece que estou recomeçando”, diz.
QUEM: Como é estrear uma nova peça depois de 11 anos lotando teatros com Cócegas?
Ingrid Guimarães:
Há muito tempo não me sentia tão nervosa. Parece que estou recomeçando. Estou me sentindo voltando a uma época da minha carreira em que eu me apresentava em teatros menores. Estou tentando não ter expectativa nem comparar com Cócegas, porque, senão, qualquer coisa vai ser fracasso.
QUEM: Por que você decidiu parar com a peça?
IG
:
O sucesso é bom, mas também te aprisiona. Foi muito difícil largar aquele público enorme, mas eu e a Heloísa Périssé não tínhamos mais novidades para mostrar em cena. Foi uma decisão importante para a nossa carreira. Eu estava muito acomodada. Encenar a peça do Neil Labute, um texto ácido que não é só comédia, é um novo passo na minha carreira.
QUEM: Várias personagens suas, como a modelo Leandra Borges e a Helô, de Macho Man, brincam com a beleza feminina. É uma opção?
IG:
É uma opção e uma coincidência. Tudo que eu escrevo e todos os textos que eu compro ou escolho refletem a minha visão de vida e são assuntos de que eu quero falar, que quero que as pessoas ouçam. Acho que, hoje, a questão da beleza surge mais forte para mim por vários motivos, entre eles o fato de ter uma filha. Fico pensado no assunto. Minha filha olha meu cabelo todo produzido e pergunta se o dela está igual. Não quero que ela tenha essa piração. As pessoas têm obsessão por isso, falamos demais em estética. Na adolescência, também perdi muito tempo preocupada com a beleza.
Ingrid Guimarães (Foto: Nino Andres/Ed. Globo)
QUEM: Já sofreu por achar que não estava dentro dos padrões de beleza?
IG:
Quando você começa a carreira adolescente, ninguém se sente encontrada, mesmo as lindas. Eu ficava preo­cupada com o que os outros falavam de mim e achava que tinha que ser de um determinado jeito para entrar na TV. Nesse sentido, o teatro foi muito libertador e me fez ver, com o tempo, que isso não tem importância. Hoje sei que o que importa é o talento, e minha carreira foi construída em cima disso.
QUEM: Você deixou de ganhar papéis na TV por não estar nesse modelo?
IG:
Não, até porque vivi de teatro até os 29 anos. Mas, na minha cabeça, eu via as meninas nas novelas e achava que tinha que ser igual. Hoje, vejo que meu lugar é mais duradouro e menos perecível. Se eu estivesse naquele padrão na minha adolescência, talvez tivesse ido por outro caminho, não teria escrito, não teria sido produtora. No fundo, foi bom. Essa obsessão pela beleza te desvirtua do melhor de você.
QUEM: O humor também foi uma válvula de escape?
IG:
Sim. No humor você pode ser o que quiser. Já fui feia, bonita, modelo, criança. Quando a gente vai ficando mais madura, vê que é mais importante rir de si mesma do que tentar ter o cabelo da menina da novela.
QUEM: Você faz terapia desde os 18 anos. O que a levou ao analista?
IG:
Acho impossível ser atriz e não fazer terapia. É um momento de autoconhecimento essencial. Sou obrigada a parar, a falar de mim e a me ver através do outro. Ainda mais nesta profissão de egos, sendo casada, mãe... É muita pressão.
QUEM: Você recorre a tratamentos estéticos?
IG
:
A pele é a coisa de que mais cuido hoje, porque fui uma adolescente com acne e vivo do meu rosto, principalmente agora que entrei no mundo do cinema. Cinema é close. Tenho uma médica e faço os tratamentos que ela me indica. Mas não tenho tempo nem saco de passar creminhos. Faço tratamentos a laser e coisas rápidas, porque também não deixo de ficar com minha filha para fazer nada disso. Então, faço tudo em casa: pilates, chamo alguém para fazer hidratação em meu cabelo de 15 em 15 dias, tudo isso com minha filha no colo. E tento me alimentar bem, mas isso é uma coisa mais recente, porque sempre fui magra e nunca precisei fazer dieta. Quero envelhecer bem.
QUEM: Já fez plástica?
IG:
Nunca fiz. Não faria nada que meu rosto mudasse, mas acho que a gente tem que aproveitar a tecnologia para se sentir melhor. Faço tratamentos para envelhecer bem e não precisar fazer plástica. Quero ter outro filho, vou amamentar de novo. Se eu me sentir mal com meu peito, até pensaria.
QUEM: Como encarou a chegada dos 40 anos?
IG:
Dois meses antes, tive uma crise. Mas não por questões estéticas, porque acho, sinceramente, que sou muito mais bonita hoje do que quando adolescente. Sou igual a vinho. Foi uma crise de vida, de prioridades, de pensar o que estava fazendo da minha vida. E foi importante, porque vi que cheguei aos 40 anos do jeito que eu queria estar, com minha filha. Quando tinha 13 anos, achava que estaria velha, mas me sinto muito jovem.
QUEM: Você foi convidada para posar nua e negou. Por quê?
IG:
Não precisava do dinheiro e minha vaidade não chega a esse ponto. Não tenho vontade de me exibir assim. Foi um ano antes de minha filha nascer, eu já planejava isso e achei melhor não fazer. Acho bonito quem faz, não critico, mas esse é o tipo de coisa que ou você faz por dinheiro ou por vaidade. Fiquei envaidecida, coloquei no currículo esse convite.
QUEM: Você foi mãe só aos 37 anos. Por quê?
IG:
Sempre fui muito workaholic e só pensava em trabalho. Também queria ter filhos estabilizada na carreira, sem ter que me preocupar em ganhar dinheiro. Cócegas aconteceu aos 29 anos, foi uma virada na carreira e eu queria aproveitar o momento. Além disso, não tinha encontrado alguém com quem quisesse ter filhos. Cresci em uma família com um pai muito presente, então, isso era muito importante.
QUEM: O que mudou em sua vida?
IG:
Mudou tudo. Trabalho era uma prioridade e tomou outra dimensão. Hoje, aprendi a dizer não, escolho melhor meus trabalhos para saber se vale a pena ficar sem ela (a filha). Eu e Renê prezamos fazer coisas a três. Se ele trabalha à tarde e eu também, fazemos algo de manhã. Sempre que possível, viajamos juntos. Esse sentido de família, que aprendi em casa, eu tento preservar. Não tinha essa coisa de almoçar vendo TV, era todo mundo junto. Falo com minha mãe duas vezes por dia, com minhas irmãs, três. Nesta profissão doida e neste mundo de valores malucos, o que me segurou foi minha família.
QUEM: Você fala em profissão doida. Como lida com a imprensa, por exemplo?
IG:
Aprendi a lidar bem. Meu marido se incomoda com a questão de tirarem fotos da família na rua, mas já disse a ele que, quanto mais a gente se aborrecer, pior. Eu sei onde tem fotógrafo, quando não quero, não vou. Mas minha filha ama praia, ama ir à Lagoa Rodrigo de Freitas, não vou deixar de levar. Eu tento não expor ninguém, mas no Rio de Janeiro não tem mais jeito.
Ingrid Guimarães (Foto: Nino Andres/Ed. Globo)

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