quarta-feira, 17 de outubro de 2012

entrevistas

Heloísa Périssé: "Não sou de carregar mágoas e baú de ossos" - Edição 626 (07/09/2012)

Sucesso em "Avenida Brasil", atriz diz que perdoaria a traição de uma amiga, como na novela, e que não trai por “preguiça”. Ela festeja ter conseguido se firmar também fora do humor e fala de casamentos, beleza, filhos e religião - Por Bruno Segadilha

Heloísa Pérrissé (Foto: Leo Lemos/Revista QUEM)
Heloísa Périssé desculpa-se pelo atraso. Envolvida com as gravações de "Avenida Brasil", em que vive a cabeleireira Monalisa, a atriz tem tido pouco tempo fora dos estúdios e aproveitou a agenda de divulgação do filme "O Diário de Tati", em cartaz nos cinemas, para conversar com QUEM. Dirigido pelo marido da atriz, Mauro Farias, o longa foi produzido em 2006, mas só foi lançado agora, após uma disputa entre distribuidoras. Hoje, seis anos depois de ter se despedido da personagem, que já brilhou no teatro na peça "Cócegas" e em programas como "Fantástico" e "Zorra Total", ela conta que se diverte vendo a relação entre Tati e a mãe (Louise Cardoso) e diz que, em casa, vive os mesmos dilemas com a filha Luísa, 13 anos, de seu casamento com o ator Lug de Paula. “Somos apegadas, mas adolescente sente vergonha de tudo”, diverte-se a atriz, que também é mãe de Antônia, de 6 anos, de seu atual casamento.
Apesar do prazer em rever a personagem, ela afirma que está dando um tempo nos tipos cômicos. “O humor foi minha porta de entrada, mas queria desbravar outros mares”, diz. Aos 46 anos, Heloísa garante que não tem problemas em envelhecer diante do vídeo, não sofre com dietas e que sempre recebe galanteios do marido, de quem esteve separada por nove meses, em 2009. “Voltamos como se nunca tivéssemos nos separado”, conta.
QUEM: O filme é de 2006. Como é ver a Tati tanto tempo depois?
HP:
É. Eu quis isso, desde sempre. Não queria ficar num lugar só. Às vezes, é complicado, porque o humor é algo inerente a mim. Certas coisas a gente escolhe na vida, outras a vida escolhe por você. O humor foi minha porta de entrada, mas queria desbravar outros mares.
Heloísa Pérrissé (Foto: Revista QUEM)
QUEM: Foi difícil se descolar da imagem de humorista?
HP:
Toda vez que você resolve mudar de área, existe uma certa expectativa. E realmente as pessoas me viam apenas como humorista, apesar de eu já ter uma história no teatro. Não acho demérito nenhum fazer humor, mas, como disse, não queria ficar só numa coisa. Por isso, agradeço a Amora Mautner, Thelma Guedes e Duca Rachid, que me deram a primeira chance em Cama de Gato (2009). Agora, o Ricardo Waddington e o João Emanuel Carneiro toparam me bancar.
QUEM: Você tem uma filha adolescente, Luísa, de 13 anos. Como é sua relação com ela?
HP:
É a mesma que aparece no filme. A minha personagem e a da Louise Cardoso, que faz a mãe, mostram bem isso, mas com tintas mais fortes. Somos muito apegadas, ela me chama de Baby, mas adolescente tem aquela coisa de sentir vergonha de tudo. Se eu entro numa loja, a Luísa pede para eu falar baixo. Também não posso comentar o Facebook dela, ela já ameaçou me bloquear. Ela também se incomoda de eu chegar no shop­ping e as pessoas me abordarem. Mas gosto dessa fase. As crises existenciais dela me interessam muito.
QUEM: Já sofreu com a ditadura da magreza?
HP:
Eu me curvo à ditadura da magreza, sim, mas, antes, sigo a ditadura do prazer. Acho que o que importa é você estar bem com você. Vamos socializar, sair, tomar um vinho, ser felizes? Prefiro. Tenho umas amigas que estão tão magras que, se jogar um xale nas costas, parecem umas velhinhas.
QUEM: Faz dieta?
HP:
Eu me controlo. Mas acho um absurdo passar fome quando você tem a opção de não passar. Malho todos os dias porque gosto, sou atenta à minha aparência, minha pele. Procuro comer coisas saudáveis, não como nos intervalos. Se exagero num dia, seguro no outro. Nada que me enlouqueça. Ouço na rua que sou muito mais magra e bonita pessoalmente, e até brinco e digo que só vou fazer teatro a partir de agora (risos)!
Heloísa Pérrissé (Foto: Leo Lemos/Revista QUEM)
QUEM: Você fez 46 anos no início de agosto. Envelhecer diante do vídeo mexe com você?
HP:
Sou uma mulher atemporal, não tenho idade. Ou melhor, tenho a idade que você quiser. E tenho um marido que faz eu me sentir bem. Ele diz: “Meu amor, deixa envelhecer, é tão bonito!”. Minha mãe nunca fez uma plástica na vida e é linda, é chique, aos 82 anos. Tudo vem muito mais de um movimento interno seu. Você pode esticar a cara, a mão, o pescoço, mas uma coisa não tem como salvar: o seu olhar. Nunca nem usei botox, mas não sou contra plástica. Faria numa boa.
QUEM: Você já foi casada três vezes. Como se relaciona com seus ex-maridos?
HP:
Eu me dou superbem com todos eles. Já fui casada com o André Mattos, o Lug de Paula e agora estou com o Mauro Farias. Teve um Natal em que passamos todos juntos: eu, Lug, Mauro, os filhos todos, uma grande família. É a família do momento, as coisas mudaram. Se não nos adaptarmos a isso, vamos virar dinossauros? Assim que a Antônia nasceu e fui batizar, liguei pessoalmente para a ex-mulher do Mauro e a convidei para a cerimônia. Disse: “Nossos filhos-irmãos. Adoraria que você fosse”. Eu quebro essas coisas. A vida é tão rápida... A cada dia que passa, estamos mais próximos da morte, a verdade é essa.
QUEM: Recentemente, você perdeu seu pai. Como lida com a morte?
HP:
Além dele, perdi também o Chico Anysio, meu ex-sogro, e o Bernardo Jablonski, um autor que foi a primeira pessoa que me olhou e disse que eu era engraçada. A perda deles mexeu demais com meus arquétipos masculinos. Sempre fui religiosa e isso me ajudou bastante nesses momentos. Creio, pela minha religião, que um dia vamos nos encontrar.
QUEM: Você é da Igreja Presbiteriana. Já sofreu preconceito por ser religiosa?
HP:
Não. Sempre fui respeitada de todos os lados, porque não abro precedentes para que isso aconteça. Não saio pregando nada por aí. Digo coisas se me solicitam. Nem Jesus fazia isso. Digo que Deus é ético, cada um tem seu tempo para sua descoberta. Em relação ao meu trabalho, explico às pessoas que digo e faço coisas que a Heloí­sa não faria, é o personagem. E todos entendem.
QUEM: Em "Avenida Brasil", sua personagem foi traída pela Olenka (Fabiula Nascimento), sua melhor amiga. Você perdoaria uma traição desse tipo?
HP:
Olha, são certas coisas que só você passando para ver. Não sou de carregar mágoas e baú de ossos, vou deixando as coisas pelo caminho. A minha tendência é perdoar e seguir em frente da melhor maneira possível. No caso da Olenka, eu perdoaria, sim.
QUEM: E você? Já traiu?
HP:
Não. Tenho preguiça de trair. Minha vida é tão complicada, cheia de coisas, que eu não teria tempo de pensar em trair, naquela coisa: “Vou encontrar onde, como vou fazer?”. Nasci no Rio de Janeiro, mas fui criada na Bahia, então, sou muito baiana, sou muito aberta.
QUEM: Você separou-se de seu marido e voltou. Como fica a relação?
HP:
Passamos nove meses separados, o tempo de uma gestação, até nascermos de novo. Vou dizer que eu e Mauro voltamos como se nunca tivéssemos nos separado. A vida não é definitiva, eu também não sou. Eu me deixo ir no movimento que o mundo está me levando.
Heloísa Pérrissé (Foto: Leo Lemos/Revista QUEM)

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